Cidades cujos prefeitos foram presos por suspeita de participação em esquema que desviou R$ 70 milhões em 20 municípios baianos, Sítio ...
Cidades cujos prefeitos foram presos por
suspeita de participação em esquema que desviou R$ 70 milhões em 20
municípios baianos, Sítio do Quinto e Fátima - na região norte do Estado
- amargam os impactos da falta de investimento público nas áreas de
educação e saúde.
Detidos
no último dia 14 e liberados após quatro dias de prisão temporária, os
prefeitos de Sítio do Quinto (a 364 km de Salvador), Cleigivaldo
Carvalho Santa Rosa, e de Fátima (a 339 km da capital), José Idelfonso
Borges, ambos do PDT, não foram vistos nas cidades desde a soltura.
Ao
longo dessa semana, equipe de reportagem de A TARDE visitou os dois
municípios e constatou que, além da precariedade nas áreas de educação e
saúde, há outras carências.
Sítio do Quinto
A
situação mais grave é a de Sítio do Quinto, onde os moradores
reivindicam saneamento básico, pavimentação e limpeza das ruas e água na
zona rural.
Com
12.317 habitantes, a cidade tem cinco unidades que atendem pelo Sistema
Único de Saúde (SUS). O principal deles, o Centro de Saúde de Sítio do
Quinto, está sem médico, faltam insumos básicos e as obras de ampliação
estão paradas por falta de operadores de máquinas.
Devido
à ausência de um médico titular, uma profissional cubana do programa
Mais Médicos, que preferiu não revelar o nome, tem se alternado entre o
Centro de Saúde e o anexo Posto de Saúde da Família.
"Falta
álcool, gaze, seringas, lençóis para as macas, escalpelo, jelco ...",
enumera uma técnica de enfermagem do Centro, que preferiu o anonimato.
"À noite, não tem um médico para atender a emergências", emenda uma
moradora, sem se identificar.
Educação aos pedaços
"A
situação de nossa escola é de calamidade", resumiu Pâmela de Oliveira,
12, do 6º ano fundamental, representante de alunos no Colégio Municipal
Santo Antônio.
Telhas
quebradas, infiltrações, paredes mofadas, fiação exposta, salas de aula
sem ventilação, banheiros sem água, computadores e carteiras quebrados
motivaram a garota a denunciar o quadro a um juiz.
Com
a tubulação quebrada, a água dos banheiros foi fechada para evitar
vazamentos. "O mofo das paredes e o fedor dos banheiros atrapalha a
aula", reclama a aluna Fernanda Silva, 13 anos.
O
diretor da escola, José Marcondes, diz que desde 2013 pediu ajuda à
prefeitura para, pelo menos, pintar a escola, sem sucesso. "Nem a mão de
obra, para colocar o portão que compramos, a prefeitura forneceu",
completou o professor Gean Carlos.
Na
educação infantil, no anexo temporário da Escola João José do
Nascimento, crianças se alimentam e fazem atividades pedagógicas no chão
do pátio.
"Quando
precisamos de espaço para uma atividade diferenciada, temos que usar
essa área, porque as salas são pequenas e com pouca ventilação", diz uma
professora, sem se identificar.
Torneira seca
No
distrito de Cascalheira, desde 2009, a bomba d'água está quebrada e a
tubulação obstruída. Quem tem dinheiro compra água de carros-pipa, quem
não tem torce para que chova nas cisternas.
É
o caso da aposentada Valdomira da Conceição, 76 anos, que pega água
barrenta três vezes ao dia. "Para beber e cozinhar", diz a idosa, que
cuida de um neto de 15 anos.
Gestores municipais
Nos
dois dias em que A TARDE permaneceu na região, a equipe de reportagem
tentou, insistentemente, sem sucesso, falar com o prefeito afastado de
Fátima, José Idelfonso Borges, e com o prefeito de Sítio do Quinto,
Cleigivaldo Carvalho Santa Rosa.
Na
terça passada, A TARDE esteve nos dois endereços do prefeito afastado e
deixou contatos (com um vizinho de frente e uma funcionária de uma das
casas) para que ele retornasse, o que não ocorreu até o fechamento desta
edição.
Funcionárias
da Secretaria de Saúde local ligaram para o titular da pasta, mas
responderam ao A TARDE que ele "estava numa reunião fora, sem previsão
de retorno". Elas se negaram a fornecer o contato do secretário.
Denúncias
Já
na Secretaria da Educação, que funciona na avenida Nossa Senhora de
Fátima, uma funcionária fechou a porta do órgão e não mais abriu
enquanto A TARDE permaneceu no local.
Em
Sítio do Quinto, mesmo sem ter sido afastado pela Justiça, para fins de
investigação, o prefeito Cleigivaldo Santa Rosa também não foi
encontrado pela reportagem.
Na
quarta passada, ao ver o carro de A TARDE na cidade, mais de 30
moradores se aproximaram para fazer denúncias. Chegavam a dizer que as
aparições do prefeito eram "raras".
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