
O roteiro é típico da velha política: inflar matrículas no EJA, criar turmas inexistentes, importar alunos de municípios vizinhos e engordar a folha de pagamento com contratações temporárias em plena temporada eleitoral. Tudo para turbinar repasses federais e, de quebra, consolidar uma rede de dependência política.
Os números são absurdos: em apenas quatro anos, o EJA em Cansanção saltou de 2.260 para 7.796 alunos. Estatisticamente, isso significaria que quase 40% da população do município teria “voltado à escola” — uma ficção tão gritante que beira a sátira.
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Esse mesmo esquema — contratações irregulares e uso da máquina para desequilibrar a disputa eleitoral — já foi reconhecido pela Justiça Eleitoral como abuso de poder, cassando o diploma da prefeita e de seu vice. A defesa tentou empurrar o caso com a barriga, mas a sentença se manteve firme. Agora, a decisão final está nas mãos do TRE-BA, que deve bater o martelo ainda neste mês. Caso confirme a condenação, Vilma perde o cargo e mergulha na inelegibilidade, abrindo caminho para novas eleições em Cansanção.
No fundo, o que se desenha é uma gestão que tratou o município como curral eleitoral e a educação como moeda de troca. A pergunta incômoda não pode ser varrida para debaixo do tapete: será que, desta vez, a Justiça vai sustentar aquilo que já reconheceu?
Enquanto isso, a população de Cansanção acompanha com desconfiança — e talvez com um certo cansaço — mais um capítulo de uma novela política em que a sala de aula virou palanque e o aluno, apenas estatística de conveniência.