Na Bahia, promessa de asfalto virou política pública. De palanque em palanque, discursos empolgados e cronogramas empurrados para o futuro são repetidos como um velho roteiro de teatro político. O governador Jerônimo Rodrigues, seguindo o script herdado de Rui Costa, tem percorrido o interior do estado com um figurino já conhecido: anunciar obras que ainda não saíram do papel — muitas delas prometidas há anos e recitadas agora com nova maquiagem.
Durante a campanha de 2022, Jerônimo anunciou a pavimentação da BA-393, ligando Heliópolis a Fátima. Em 2024, a promessa reapareceu. A licitação foi até aberta, mas nenhuma máquina pisou o solo. Os moradores seguem enfrentando lama, poeira e incerteza. Já a estrada entre Coronel João Sá e Sítio do Quinto — a simbólica BA-084, com cerca de 41 km — foi prometida em 2021 por Rui Costa, e depois reapresentada por Jerônimo em dezembro de 2024, já com cifras anunciadas e promessas de ordem de serviço para 2025. Mas quem mora ali continua esperando. Esperando como quem espera milagre.
O mesmo vale para a tão falada ligação entre Antas e o povoado de Caxias, em Cícero Dantas, pela BA-392. Mais uma promessa de palanque, sem licitação, sem sinal de execução. Já a pavimentação entre Paripiranga e Cícero Dantas, também anunciada por Rui Costa em 2021, segue na lista das estradas fantasiosas da gestão petista.
Enquanto isso, o povo resiste. A fé do sertanejo sustenta a esperança, mas não tapa buraco nem evita acidentes. O que temos, de concreto, são cerimônias e fotografias cuidadosamente registradas. Como num palco armado, as autoridades descem de helicóptero, posam com chapéu de couro e camisa arrochada, acenam e prometem. E, ao fundo, o povo — figuração da cena — aplaude e sonha.
O grupo petista que governa a Bahia parece ter encontrado nas promessas o seu maior trunfo. Executar? Entregar? Isso é outra história. O que importa, para eles, é manter a esperança viva — ainda que sustentada por palavras e não por obras.
O problema é que promessa não enche pneu furado, nem salva vidas nas estradas esburacadas. A esperança, quando usada como moeda política, se torna cruel. Alimenta expectativas, fragiliza a crítica e transforma o cidadão em figurante da própria tragédia.
Que venha a eleição. O palco já está montado.
Por Erica Anjos